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domingo, 18 de setembro de 2011

HISTÓRIA DO BAIRRO GUARAPES

História do Bairro 
 
As ruínas sob a encosta do morro, as margens da estrada de Macaíba são o que resta da época do poderio econômico do local chamado Guarapes. Do mascate Fabrício Gomes Pedroza, o verdadeiro fundador do bairro, à tão famosa Amélia Machado, a viúva Machado, que se tornou dona daquelas terras, no século XX, foram anos de muita prosperidade. 
 
A história de riqueza de outrora contrasta com as condições atuais dos conjuntos Guarapes I, II e III. Solução governamental para abrigar famílias de baixa renda, a ocupação desordenada no lugar provoca problemas de meio ambiente, particularmente, nos sub-afluentes do rio Jundiaí, que banha o lugar. 

Fabrício Gomes Pedroza, alcunhado no livro "História da Cidade do Natal", de Luís da Câmara Cascudo, como "Senhor dos Guarapes", viu uma colina e encantou-se dela. Nesta colina está a "Casa dos Guarapes", que mais tarde se tornaria famosa por ser o sobrado velho da viúva Machado. 

"Encontrou Guarapes, a colina solitária coberta de árvores, a curva doce do rio, amplo, igual, tranqüilo. Fundou a "Casa dos Guarapes". Em baixo, margeando, a fila dos armazéns bojudos, que tudo guardavam e vendiam. Em cima, os escritórios almoxarifados, a Capela, a escola, o quartel-general da ação", relata Cascudo. 

Quando fala sobre a parte baixa, Cascudo refere-se à área onde estão as granjas hoje, na margem direita da estrada de Macaíba, sentido Natal/interior. Ali, bem em frente as ruínas, o local foi aterrado para funcionar como um ancoradouro. Este era o ponto comercial intermediário da cidade. "De 1869 a 1870, mais de vinte navios vêm, em viagem direta, da Europa a Guarapes, carregar", relata Cascudo. 

O negócio de Fabrício foi continuado pelo genro Amaro Barreto e pelo segundo Fabrício Gomes Pedroza. 

Cascudo lembra que o negócio, já transferido para Natal, permaneceu até 1890, "com força decisiva na praça."
Muito antes de Fabrício Gomes Pedroza, o auto de repartição de terras do Rio Grande, de 1614, existe referência ao rio de Guaramine. Apesar da grafia, o nome Guarapes não surgiu daí. Possivelmente, o topônimo lembra, de forma abreviada, o nome dos montes nos arredores de Recife, onde ocorreram as grandes batalhas na luta pela expulsão dos invasores holandeses. Dizem também que é originária da casa do major Fabrício Pedroza. 

A estrada de Macaíba, chamada também de rodagem do Seridó, foi iniciada por Brandão Cavalcanti, em 1914. Mais tarde, entre 1921 e 1922, o trecho entre Macaíba e a capital foi completado por Eduardo Parisot. A famosa ponte de Guarapes, parte integrante do quadro de divisão territorial do Estado, foi marco da divisa entre Natal e Macaíba. Esta ponte era de madeira, sendo refeita em alvenaria por Júlio de Melo Rezende, entre 1924 e 1925, quando este era da inspetoria das secas. 

Mistérios rondam o sobrado da viúva Machado 

Ana Batista Conceição, trabalhava zelando o sobrado da viúva Machado. Depois de casar com Francisco de Mônica, ela foi morar, em 1915, na histórica casa da colina dos Guarapes. O marido dela era vigia da imensidão de terras da família Machado. 

Muitos garotos cresceram com medo da viúva Machado. Os pais costumavam dizer que ela viria pegar quem não andasse na linha. O boato na cidade corre, inclusive, nos Guarapes hoje, que a dona daquelas terras tinha um problema de crescimento anormal das orelhas. Para se curar, ela comia fígado de crianças. O local do sacrifício era o sobrado velho. Por este motivo, existem superstições em torno do lugar. Alguns não se atrevem a ir lá à noite, com medo do fantasma da viúva. 

Grandes foram as posses de Amélia Machado. A localidade dos Guarapes foi inventariada no espólio do Coronel Juvino Barreto em 1901, partilhada pelo filho Abel Juvino Barreto. Foi vendida a Nizário Gurgel e leiloada em 1909, arrematada pelo Coronel Felinto Manso e adquirida, depois, por João Machado. Este era o marido da viúva Machado. Eles eram proprietários das terras do Pitimbu, Felipe Camarão e Guarapes, além de localidades no interior. A casa da colina era usada pelos proprietários para juntar os funcionários e efetuar o pagamento. 

Bairro grita por segurança, esgoto e pavimentação 

O bairro dos Guarapes é o segundo em área de Natal. Tem 1.280,13 hectares, perde apenas para o bairro Lagoa Azul com seus 1.299,90 hectares. As margens da estrada de Macaíba, conserva-se rural, com granjas e pequenos sítios, com criações de porcos e gado. A principal atividade, entretanto, ainda é a pesca. 

Nos rios Jundiaí e Potengi, os moradores dos Guarapes buscam seu sustento, pescando. Alguns vão ao manancial apenas para pegar tira-gostos, como o sururu. As pescarias com tarrafas, que arrastam os peixes ainda pequenos, contribuiu para a diminuição dos cardumes no local. Em cada parte do rio, estão determinadas espécies. Elas são as mais diversas, como tainha e carrapeta. Já estão difíceis de encontrar o cacetão e a curimã.  

Os mangues também são fonte de sustento para a população. Muitos vivem de pegar crustáceos em meio ao lamaçal. Guarapes tem, no entanto, como principais reivindicações a pavimentação, esgotamento sanitário e segurança. 

RIO JUNDIAÍ - A ocupação desordenada dos Guarapes provocou conseqüências diretas nos mananciais que banham o bairro. O trabalho de especialização do professor aposentado da UFRN, Francisco de Assis de Melo e Silva - Guarapes: Conseqüências Ambientais - mostra o desaparecimento do riacho do ouro e a ameaça que sofre o riacho da prata. Eles são dois sub-afluentes do rio Jundiaí. 

A intenção de acabar com as favelas em outras áreas da cidade fez com que a prefeitura simplesmente permitisse a ocupação no lugar. O bairro surgiu em 1988, mas já estava sendo ocupado em 1983. 

O trabalho sugere uma série de recomendações para controlar a degradação do meio ambiente. A proposta acadêmica prevê acompanhamento técnico nas horticulturas comunitárias, além de controle da criação de animais na área, construção de fossas sumidouros, recuperação e reflorestamento da mata ciliar e um trabalho de educação ambiental no local.

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